Emissões rádio “fora de banda” da Starlink podem afetar astronomia

Starlink em órbita – imagem Starlink/SpaceX

Num estudo publicado no jornal “Astronomy & Astrophysics”, uma equipa internacional de cientistas explica que detetou “radiações eletromagnéticas não intencionais” provenientes de sistemas eletrónicos de cerca de 50 satélites da constelação Starlink, entre os 110 e 188 MHz.

Nesta porção de espectro VHF encontram-se serviços de telecomunicações da aviação, comercial, radioamador e de estudos em radioastronomia (150.05 -153 MHz), um dos principais focos desta investigação.

O projeto, coordenado pelo vice-presidente do “IAU Centre for Protection of the Dark and Quiet Sky From Satellite Constelation”, Federico Di Vruno, utilizou o radiotelescópio Low Frequency Array (LOFAR), localizado nos Países Baixos, para realizar o estudo, lê-se num comunicado.

Radiotelescópio LOFAR – http://www.jb.man.ac.uk/news/2011/LOFAR-pulsars/

Segundo o estudo, as radiações detetadas diferem das transmissões de rádio ditas “normais” daquela constelação que, até este trabalho ser publicado, eram“uma das principais preocupações dos astrónomos”.

A equipa sublinha que a escolha da Starlink para realizar o estudo se deve ao facto de que a empresa de Elon Musk tem, atualmente, mais de dois mil satélites em órbita.

“Com o aumento do número de satélites em órbita baixa da Terra (LEO), um radiotelescópio terá muitos satélites a emitir sinais no seu campo de visão, a qualquer momento. A expectativa era que a principal preocupação sobre estas constelações de satélites fosse suas transmissões planeadas de e para a Terra”, acrescenta.

Salienta, ainda, que a SpaceX se disponibilizou para continuar a discutir possíveis formas de mitigar quaisquer efeitos adversos na astronomia “de boa fé”.

NSF’s National Optical-Infrared Astronomy Research Laboratory/CTIO/AURA/DELVE – https://nationalastro.org/news/starlink-satellites-imaged-from-ctio/

Segundo os autores do estudo, a empresa já terá introduzido mudanças na próxima geração de satélites “que poderiam atenuar o impacto dessas emissões não intencionais em projetos astronómicos importantes”.

Esta abordagem “estabelece um exemplo”, sublinha, mas como se espera detetar emissões não intencionais semelhantes de mais satélites em órbita LEO, os autores frisam que “a participação de outros operadores também é crucial”.

Adiantam, ainda, que mais observações, incluindo a outros sistemas de satélites, já estão em curso, justificando que esta radiação não intencional pode afetar a pesquisa astronómica.

No entanto, recordam que a SpaceX e outros operadores de satélites não estão a violar nenhuma regra “já que este tipo de radiação não está previsto em qualquer regulamentação internacional” no caso específico dos satélites, ao contrário do que é requerido para equipamentos terrestres.

Os autores do estudo concluem, sublinhando que pretendem apenas “encorajar os operadores de satélites e os reguladores a considerar o impacto na radioastronomia no desenvolvimento de naves espaciais e processos regulatórios”.

O “IAU Centre for the Protection of the Dark and Quiet Sky from Satellite Constellation Interference” foi estabelecido pela União Astronómica Internacional (IAU) para proteger o céu noturno da interferência causada por constelações de satélites.

A Starlink é uma constelação de satélites lançada e operada pela empresa SpaceX que fornece serviços de acesso à Internet, à escala global.

fonte: IAU Centre for the Protection of the Dark and Quiet Sky from Satellite Constellation Interference (CPS)

imagem de “capa”: NOIRLab/NSF/AURA/P. Marenfeld

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